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A mostrar mensagens de janeiro, 2019

O assassínio de Rosa Luxemburgo: Uma tragédia e uma farsa

Há cem anos, uma das mais fervorosas defensoras do socialismo internacional era brutalmente executada, a mando de antigos camaradas de partido. Dirigente política ainda no tempo em que as mulheres não podiam votar, Rosa Luxemburgo cofundou o partido comunista alemão, mas não poupou críticas à Revolução Russa. Ícone revolucionário de feministas, pacifistas ou marxistas, sobrevive a sua herança política e a repulsa perante o seu homicídio Quando estalou a repressão contra a esquerda alemã, a 5 de janeiro de 1919, os amigos mais próximos de Rosa Luxemburgo aconselharam-na a abandonar Berlim e a refugiar-se numa cidade mais discreta e, por isso, mais segura. Perante estes apelos, a sua resposta era invariavelmente a mesma. Ora, se os trabalhadores berlinenses não tinham onde se refugiar, abandoná-los seria uma deserção. Rosa Luxemburgo tinha sido libertada da prisão há escassos dois meses, ao fim de três anos de cárcere, e não estava disposta a fugir ao combate, apesar da desigualdade

Ligue já para comprar o cogumelo do tempo de Salazar

Como simpatizante da democracia e do Estado de Direito, acho que quem cumpre a pena pelos seus crimes passa a ser um cidadão como os outros e não sou contra o debate contra pessoas que têm ideais que vão contra os direitos humanos. Quero começar por dizer que não sou contra o debate contra pessoas que têm ideais que vão contra os direitos humanos. Seja um homofóbico, um racista, ou um nazi, acho o debate importante para destruir as ideias extremistas que nascem aqui e ali. Acho que varrer o lixo para baixo do tapete é mais perigoso do que dar-lhe tempo de antena e não tenho dúvidas de que tenha sido essa política da demonização sem debate e da censura através politicamente correcto que deu força a Trump, Bolsonaro e outros movimentos de patetas que deram à costa nos últimos anos. Dito isto, é parvo ter um nazi num programa da manhã de uma televisão? É um bocado. Principalmente quando é apresentado como “Autor de algumas frases polémicas”. Não, não foi por algumas frases polémi

A crise do Euro e o défice democrático na Europa

A crise do Euro e o agravar do problema do défice democrático europeu Na minha última crónica, analisei o recente livro Carlos Gaspar (2017). O autor divide a sua história sobre a geopolítica da Europa contemporânea em quatro eras. Sobre a última e corrente época, «O declínio da Europa», Gaspar fala-nos das três crises europeias, ou seja, da crise do euro, da crise dos refugiados e da crise das políticas europeias. Já tive oportunidade de relevar as virtudes da obra. Porém, identifiquei também uma fragilidade: o fraco relevo dado ao problema do défice democrático europeu, e à crescente tecnocratização do governo da EU, como uma das fontes essenciais das «crises europeias».  O objeto da presente crónica é, por isso, esse mesmo: a crise do Euro e o agravar do problema do défice democrático europeu. Sirvo-me, para tanto, de vários livros (relativamente) recentes: Torreblanca, 2014; Freire, 2015; Hennette et al, 2017. O perene problema do défice democrático europeu Num

A QUALIDADE DA DEMOCRACIA ESTÁ EM DECLÍNIO EM MUITOS ESTADOS INDUSTRIALIZADOS

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Um estudo publicado pela Fundação Bertelsmann conclui que a qualidade da democracia está em declínio em muitos estados industrializados, tendo os seus padrões de qualidade vindo a ser deteriorados ao longo dos anos. Globalização, desigualdade social e protecção do clima - dados os enormes desafios enfrentados pelos países da OCDE e da UE, é de se esperar reformas mais vigorosas. No entanto, como as nossas conclusões mostram, a erosão dos padrões de democracia e a crescente polarização política estão a dificultar a implementação de reformas sustentáveis. A qualidade da democracia na OCDE e na UE diminuiu nos últimos anos. Ao mesmo tempo, a crescente polarização política tornou o trabalho quotidiano da governação e, portanto, a capacidade de reforma dos estados membros mais difícil. Os governos de vários países, como os Estados Unidos, a Hungria e a Turquia, estão deliberadamente a alimentar as tensões sociais em vez de procurar consenso num esforço para nego

Os nossos bolsonaristas

A melhor forma de fazer eleger um qualquer Bolsonaro, pouco importando se é cabo ou capitão, é difamando a democracia e os seus políticos, algo a que assistimos diariamente no nosso país. E na liderança dos que difamam a democracia são os que usam a Justiça para meter o país a ferro e fogo, com o objetivo de se promoverem a nossos heróis e forçar o país a adotar os governos que querem fazer eleger. Vimos isso no Brasil com o juiz Moro a destruir políticos, ajudando a extrema-direita para depois se fazer escolher a si próprio como ministro todo poderoso. Não deixa de ser curioso como nos últimos anos temos assistido a laços cada vez mais íntimos entre algumas personagens da nossa Justiça e gente da Justiça brasileira. Aliás, os nossos não se têm cansado de elogiar os mecanismos de investigação e de condenação adotados pela justiça portuguesa, propondo a sua adoção em Portugal. Todos os dias recebemos mensagens falando mal dos nossos políticos, apresentando-os como par

Brasil – Habemus PR Bolsonaro. Consummatum est

A tomada de posse de Jair Messias Bolsonaro foi o ato final de legitimação do golpe de Estado contra Dilma. Lá foi Michel Temer, que a traiu, a devolver a faixa presidencial, à espera da prisão, pois, ao contrário de Lula, há gravações que provam a sua corrupção. Da conspiração das Igrejas evangélicas, com homilias, órgãos de comunicação e crentes destacados nas redes sociais, sai mais poderoso o bispo Edir Macedo e mais próximo do Paraíso quem paga o dízimo, em suaves prestações, na compra de uma assoalhada junto a Deus, mas foram os grandes interesses económico-financeiros que aprontaram o golpe e o conduziram. Nos políticos conluiados com o poder judicial, para afastar o previsível vencedor, Lula da Silva, estava o juiz Sérgio Moro, cuja ambição dispensou um período de nojo entre a prisão, investigação e julgamento do adversário político e a entrada imediata no governo do fascista assumido, machista, homofóbico, racista, xenófobo e violento. Bolsonaro, depois de uma carreira m

Retoma do emprego, mas não dos salários

A expressão “recuperação sem emprego” (“jobless recovery”) foi cunhada na década de 1990 para caracterizar a economia norte-americana, que após a recessão de 1990-91 regressou ao crescimento económico sem que o desemprego diminuísse. Algumas das explicações então aventadas para este fenómeno incluíam a deslocalização de partes do processo produtivo para outras partes do globo e os aumentos da produtividade associados às novas tecnologias de automação e informação: ambos os processos tenderiam a aumentar o produto por trabalhador empregado, quebrando a ligação entre as dinâmicas do produto e do emprego.  Hoje em dia, no contexto da recuperação após a Grande Recessão e as diversas ondas de choque que a têm caracterizado, o problema central da recuperação económica nas economias avançadas é de uma natureza diferente. Tanto na Europa como nos Estados Unidos, a taxa de desemprego caiu fortemente nos últimos anos, encontrando-se actualmente em níveis bastante reduzidos face aos padrões

Diretiva europeia de direitos de autor: internet não acaba, mas pode mudar muito

Os artigos 11.º e 13.º da diretiva comunitária sobre os direitos de autor levantam ameaças à liberdade de expressão digital e ao acesso à informação. Esperamos que a proposta seja alterada antes da votação final. Vários YouTubers portugueses colocaram a discussão na agenda nacional: a internet corre o risco de desaparecer por causa dos artigos 11.º e 13.º da diretiva comunitária sobre os direitos de autor? O debate ultrapassa as fronteiras nacionais, havendo mesmo uma petição online, Save the internet , com mais de 4 milhões de assinaturas. A proposta de diretiva, que vai a votos no Parlamento Europeu este mês, visa adaptar os direitos de autor ao mercado digital, promover a criatividade e criar formas mais equilibradas de garantir o respeito pelo copyright . Infelizmente, fá-lo criando restrições ao carregamento e à partilha de conteúdos em plataformas como o YouTube , Facebook , Twitter e Instagram . Os objetivos da diretiva são positivos, mas a sua aplicaçã

Bolsonaro, um Salazar brasileiro

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Bolsonaro traz para ideologia oficial do Brasil tudo aquilo que foi a cartilha da ditadura portuguesa, o mesmo ódio às "ideologias", a religião como parte do Estado, a defesa dos valores das famílias ultraconservadoras, o mesmo horror aos "vermelhos". 2 de Janeiro de 2019 Ana Sá Lopes Os dois discursos que ontem Jair Messias Bolsonaro fez na tomada de posse prenunciam o pior. Já sabíamos, evidentemente, desde o início da campanha, mas o capitão reformado entendeu não desiludir quem o elegeu para o cargo de Presidente do Brasil. O elevado grau de aprovação com que Bolsonaro chega ao Planalto é, evidentemente, um susto para quem defende a liberdade e a democracia no sentido ocidental do termo. Para nós, portugueses, assistir ontem aos discursos de Bolsonaro, trouxe reminiscências dos discursos de um homem que saiu do poder em 1968, embora isso tivesse acontecido por doença: Oliveira Salazar. Bolsonaro traz agora para ideologia oficial do Brasil tudo aquilo q