O assassínio de Rosa Luxemburgo: Uma tragédia e uma farsa
Há cem anos, uma das mais fervorosas defensoras do socialismo internacional era brutalmente executada, a mando de antigos camaradas de partido. Dirigente política ainda no tempo em que as mulheres não podiam votar, Rosa Luxemburgo cofundou o partido comunista alemão, mas não poupou críticas à Revolução Russa. Ícone revolucionário de feministas, pacifistas ou marxistas, sobrevive a sua herança política e a repulsa perante o seu homicídio
Quando estalou a repressão contra a esquerda alemã, a 5 de janeiro de 1919, os amigos mais próximos de Rosa Luxemburgo aconselharam-na a abandonar Berlim e a refugiar-se numa cidade mais discreta e, por isso, mais segura. Perante estes apelos, a sua resposta era invariavelmente a mesma. Ora, se os trabalhadores berlinenses não tinham onde se refugiar, abandoná-los seria uma deserção.
Rosa Luxemburgo tinha sido libertada da prisão há escassos dois meses, ao fim de três anos de cárcere, e não estava disposta a fugir ao combate, apesar da desigualdade de forças em contenda. Mesmo dormindo em casas diferentes quase todas as noites, bastaram dez dias para a ativista revolucionária ser detida, vítima de delatores.
A 15 de janeiro de 1919, Rosa Luxemburgo e o seu camarada de partido Karl Liebknecht foram localizados e levados para o Hotel Éden. Restavam-lhes poucas horas de vida.
Karl Liebknecht seria interrogado pelo capitão Waldemar Pabst, o mentor do duplo homicídio, e, a seguir, assassinado a tiro. Rosa Luxemburgo, igualmente interrogada por Pabst, seria exposta a uma turba em fúria antes de ser agredida à coronhada por um soldado. Na época, os seus opositores chamavam-lhe pejorativamente “Rosa Vermelha”. Quando a fizeram entrar num automóvel, que a deveria transportar para a prisão, já seguia inconsciente. Seria abatida com um tiro à queima-roupa na têmpora esquerda pelo tenente Hermann Souchon. E o seu corpo lançado no Landwehrkanal, um dos canais do rio Spree. O cadáver só foi recuperado cinco meses depois. Rosa Luxemburgo tinha 48 anos.
Milhares de pessoas voltaram a manifestar-se, em Berlim, no segundo domingo de janeiro, que este ano calhou no dia 13, em homenagem a Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo.
Quando estalou a repressão contra a esquerda alemã, a 5 de janeiro de 1919, os amigos mais próximos de Rosa Luxemburgo aconselharam-na a abandonar Berlim e a refugiar-se numa cidade mais discreta e, por isso, mais segura. Perante estes apelos, a sua resposta era invariavelmente a mesma. Ora, se os trabalhadores berlinenses não tinham onde se refugiar, abandoná-los seria uma deserção.
Rosa Luxemburgo tinha sido libertada da prisão há escassos dois meses, ao fim de três anos de cárcere, e não estava disposta a fugir ao combate, apesar da desigualdade de forças em contenda. Mesmo dormindo em casas diferentes quase todas as noites, bastaram dez dias para a ativista revolucionária ser detida, vítima de delatores.
A 15 de janeiro de 1919, Rosa Luxemburgo e o seu camarada de partido Karl Liebknecht foram localizados e levados para o Hotel Éden. Restavam-lhes poucas horas de vida.
Karl Liebknecht seria interrogado pelo capitão Waldemar Pabst, o mentor do duplo homicídio, e, a seguir, assassinado a tiro. Rosa Luxemburgo, igualmente interrogada por Pabst, seria exposta a uma turba em fúria antes de ser agredida à coronhada por um soldado. Na época, os seus opositores chamavam-lhe pejorativamente “Rosa Vermelha”. Quando a fizeram entrar num automóvel, que a deveria transportar para a prisão, já seguia inconsciente. Seria abatida com um tiro à queima-roupa na têmpora esquerda pelo tenente Hermann Souchon. E o seu corpo lançado no Landwehrkanal, um dos canais do rio Spree. O cadáver só foi recuperado cinco meses depois. Rosa Luxemburgo tinha 48 anos.
Marxista ou nem tanto
Milhares de pessoas voltaram a manifestar-se, em Berlim, no segundo domingo de janeiro, que este ano calhou no dia 13, em homenagem a Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo.
A execução brutal da cofundadora do Partido Comunista Alemão (KPD) contribuiu para a sua ascensão a mito, mas está longe de ser a única razão da sua imortalidade histórica, agora que se assinalam os cem anos da sua morte.
Rosa Luxemburgo nasceu na Polónia, no seio de uma família judia, em 1871, tornou-se militante socialista aos 15 anos. Aos 18, emigrou para Zurique (a Suíça foi um dos primeiros países europeus a aceitar mulheres nas universidades), onde estou Direito e Economia Política, concluindo o doutoramento em 1898, ano em que se mudou para Berlim.
Aderiu ao Partido Social Democrata Alemão (SPD), na altura o mais relevante movimento dos trabalhadores na Europa (somava mais de um milhão de militantes). Para ter acesso à nacionalidade alemã, celebrou um casamento de conveniência com um camarada socialista com quem nunca viveu. A dedicação à política, deixava-lhe pouca margem para se preocupar com aspetos comezinhos como bilhetes de comboio ou outras questões práticas, que delegava com satisfação.
Foi uma feroz opositora das teorias revisionistas de Eduard Bernstein, que defendiam a reforma gradual do capitalismo, tornou a sua posição clara no livro Reforma Social ou Revolução (1889), no qual defendia a necessidade da revolta. Foi eficaz ao ponto de o Partido Social Democrata Alemão recuar no apoio a Bernstein.
O pensamento de Rosa Luxemburgo seria mais claramente estruturado anos depois, no livro A Acumulação do Capital (1913) que pretendia, de alguma forma, atualizar a teoria marxista. A filósofa Hannah Arendt (1906-1975) chegou a questionar se Luxemburgo chegaria a ser marxista: “Recomendava aos amigos que lessem Marx mais pela ‘ousadia dos seus pensamentos, pela recusa em considerar o que quer que fosse como ponto assente’, do que pelo valor das suas conclusões”, escreveu.
Rosa Luxemburgo dizia que as revoluções não se fazem, acontecem. À medida que a ala esquerda do SPD perdia terreno, deixou-se entusiasmar pela vaga revolucionária que varreu o império russo em 1905. Rumou à Polónia da sua infância e não conseguiu evitar ser presa. Dessa experiência resultaria a obra Greve de Massas, partidos e sindicatos (1906), na qual considerava a greve em massa como o mais poderoso instrumento de luta do proletariado.
A greve de massas também seria a estratégia por ela defendida aquando das manifestações em defesa do sufrágio universal, em 1910, na Prússia. Os movimentos feministas dos anos sessenta e setenta reivindicaram a sua herança. No entanto, Rosa Luxemburgo nunca se identificou abertamente enquanto defensora dos direitos das mulheres.
Quando regressou de Varsóvia, deu aulas no instituto do Partido Social Democrata. Alguns dos seus alunos seriam, anos mais tarde, seus carrascos.
A ativista atribuía ao capitalismo uma tendência natural para o expansionismo e a guerra, criticando abertamente o imperialismo. Ao mesmo tempo, exortava as massas a aproveitarem as crises provocadas por esse sistema para tomarem o poder. Chegou a assinar um documento conjunto, que incluía Lenine, no qual se defendia, precisamente, que se o conflito militar fosse inevitável, deveria “precipitar a queda da dominação capitalista”.
Lenine fez-lhe várias visitas – era particularmente fã da sua gata Mimi – e Rosa Luxemburgo gostava de conversar com ele, considerava-o “um homem inteligente e bem-educado”.
Seria o apoio do SPD à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) a ditar o seu afastamento definitivo do partido. Karl Liebknecht, deputado social-democrata, seria o único membro do Reichstag a votar contra a guerra, em 1914. Uma atitude que lhe viria a garantir ampla notoriedade pública à medida que se revelava a tragédia e a violência da guerra. Também Rosa Luxemburgo passou a ser vista como arauto do antimilitarismo – sobretudo depois de apelar aos soldados para se negarem a combater e de instar os trabalhadores a iniciarem uma greve de massas que, acreditava, acabaria por contagiar os operários dos outros países. Afinal, era uma acérrima defensora do internacionalismo. No seu entender, o nacionalismo não passava de uma concessão à burguesia – estando em profundo desacordo com Lenine.
As consequências não tardaram. Liebknecht foi enviado para o campo de batalha e, mais tarde, preso. Enquanto Luxemburgo passou três dos quatro anos da guerra na prisão. Ambos ajudariam a criar a Liga Espártaco, que mais tarde daria origem ao Partido Comunista Alemão (KPD). Sob pseudónimo, Rosa Luxemburgo escreveu no cárcere A crise da social-democracia (1915), que criticava a adesão do SPD à política da guerra. O livro ficaria na História por conter uma das suas afirmações mais célebres: “socialismo ou a barbárie”.
Também seria a partir da cadeia que acompanharia as convulsões da Revolução Russa de 1917. Os seus escritos da prisão sobre os bolcheviques só seriam publicados anos depois. Neles, apesar de mostrar apreço por Lenine e Trotsky, criticava a “centralidade democrática” do regime soviético. Luxemburgo defendia a democracia parlamentar e a realização de eleições livres. “Liberdade só para os apoiantes do governo ou só para os membros de um único partido não é liberdade de todo”, escreveu.
Quando se deu a queda do Muro de Berlim, em 1989, os manifestantes recuperaram uma das suas críticas aos bolcheviques: “A liberdade é sempre a liberdade de quem pensa de outro modo”. A sua oposição à Primeira Guerra Mundial também teria eco nos movimentos pacifistas da década de oitenta. Já durante os movimentos de contestação dos anos sessenta a figura de Rosa Luxemburgo havia sido recuperada.
A 9 de novembro de 1918 – o armistício seria assinado dois dias depois – a revolta dos marinheiros do porto de Kiel estendeu-se a Berlim e derrubou a monarquia. Rosa Luxemburgo seria libertada precisamente nesse dia, a tempo de vivenciar as primeiras horas da República. Apesar de a propaganda a apelidar de “Rosa Sanguinária”, os guardas da prisão despediram-se dela com lágrimas nos olhos.
A ativista defendia uma organização política semelhante à soviética e opunha-se à eleição de uma Assembleia Constituinte. A Liga Espártaco daria origem ao Partido Comunista Alemão em dezembro desse ano. O objetivo era chegar ao poder não através da força, mas do apoio das massas.
No mês seguinte, a 5 de janeiro, o SPD, agora no poder, decide neutralizar os comunistas, provocando a revolta armada. Apesar de não serem adeptos do confronto militar, Liebknecht e Luxemburgo apoiaram a contrarresposta revolucionária. E, até ser detida, a cofundadora do KPD exortou os trabalhadores a juntarem-se à luta.
A sua batalha seria interrompida ao ser assassinada a 15 de janeiro de 1919.
“A História repete-se, primeiro como tragédia e, depois, como farsa”, dizia Karl Marx. E foi precisamente uma farsa que se seguiu aos homicídios de Liebknecht e Luxemburgo.
Perante um tribunal militar, a morte de Karl Liebknecht foi justificada com uma “tentativa de fuga” do prisioneiro. Já sobre Rosa Luxemburgo, o capitão Pabst declarou que teria sido morta por uma multidão em fúria.
O companheiro de Rosa Luxemburgo durante longos anos, Leo Jogiches, que assumiu a liderança do Partido Comunista após a morte dos dois fundadores, tentou investigar o duplo homicídio por conta própria. Também ele acabaria assassinado dois meses depois, em março de 1919.
A maior parte dos réus acusados do homicídio de Liebknecht e Luxemburgo foi ilibada. Apenas um soldado cumpriria dois anos de pena e um tenente seria condenando a quatro meses de prisão. No entanto, o tenente Vogel acabaria por evadir-se para a Holanda e, mais tarde, seria amnistiado. Pabst foi apenas ouvido na qualidade de testemunha. Alguns dos envolvidos no homicídio de Luxemburgo seriam, mais tarde, aliados de Hitler.
Os homicídios dos líderes do KPD contribuiu para a divisão da esquerda e, retrospetivamente, seria interpretada como o princípio do fim da República de Weimar (1918-1933).
Em 1929, Bertolt Brecht assinalou os dez anos da morte de Rosa Luxemburgo com o poema Epitáfio.
Para a História, ficaram as ideias revolucionárias de uma mulher que nunca se deixou agrilhoar. Rosa Luxemburgo acreditava que só "quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem".
Vânia Maia
Jornalista
Fonte: http://visao.sapo.pt/atualidade/2019-01-15-O-assassinio-de-Rosa-Luxemburgo-Uma-tragedia-e-uma-farsa
Rosa Luxemburgo nasceu na Polónia, no seio de uma família judia, em 1871, tornou-se militante socialista aos 15 anos. Aos 18, emigrou para Zurique (a Suíça foi um dos primeiros países europeus a aceitar mulheres nas universidades), onde estou Direito e Economia Política, concluindo o doutoramento em 1898, ano em que se mudou para Berlim.
Aderiu ao Partido Social Democrata Alemão (SPD), na altura o mais relevante movimento dos trabalhadores na Europa (somava mais de um milhão de militantes). Para ter acesso à nacionalidade alemã, celebrou um casamento de conveniência com um camarada socialista com quem nunca viveu. A dedicação à política, deixava-lhe pouca margem para se preocupar com aspetos comezinhos como bilhetes de comboio ou outras questões práticas, que delegava com satisfação.
Foi uma feroz opositora das teorias revisionistas de Eduard Bernstein, que defendiam a reforma gradual do capitalismo, tornou a sua posição clara no livro Reforma Social ou Revolução (1889), no qual defendia a necessidade da revolta. Foi eficaz ao ponto de o Partido Social Democrata Alemão recuar no apoio a Bernstein.
O pensamento de Rosa Luxemburgo seria mais claramente estruturado anos depois, no livro A Acumulação do Capital (1913) que pretendia, de alguma forma, atualizar a teoria marxista. A filósofa Hannah Arendt (1906-1975) chegou a questionar se Luxemburgo chegaria a ser marxista: “Recomendava aos amigos que lessem Marx mais pela ‘ousadia dos seus pensamentos, pela recusa em considerar o que quer que fosse como ponto assente’, do que pelo valor das suas conclusões”, escreveu.
Revoluções inesperadas
Rosa Luxemburgo dizia que as revoluções não se fazem, acontecem. À medida que a ala esquerda do SPD perdia terreno, deixou-se entusiasmar pela vaga revolucionária que varreu o império russo em 1905. Rumou à Polónia da sua infância e não conseguiu evitar ser presa. Dessa experiência resultaria a obra Greve de Massas, partidos e sindicatos (1906), na qual considerava a greve em massa como o mais poderoso instrumento de luta do proletariado.
A greve de massas também seria a estratégia por ela defendida aquando das manifestações em defesa do sufrágio universal, em 1910, na Prússia. Os movimentos feministas dos anos sessenta e setenta reivindicaram a sua herança. No entanto, Rosa Luxemburgo nunca se identificou abertamente enquanto defensora dos direitos das mulheres.
Quando regressou de Varsóvia, deu aulas no instituto do Partido Social Democrata. Alguns dos seus alunos seriam, anos mais tarde, seus carrascos.
A ativista atribuía ao capitalismo uma tendência natural para o expansionismo e a guerra, criticando abertamente o imperialismo. Ao mesmo tempo, exortava as massas a aproveitarem as crises provocadas por esse sistema para tomarem o poder. Chegou a assinar um documento conjunto, que incluía Lenine, no qual se defendia, precisamente, que se o conflito militar fosse inevitável, deveria “precipitar a queda da dominação capitalista”.
Lenine fez-lhe várias visitas – era particularmente fã da sua gata Mimi – e Rosa Luxemburgo gostava de conversar com ele, considerava-o “um homem inteligente e bem-educado”.
A perigosa dissidência
Seria o apoio do SPD à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) a ditar o seu afastamento definitivo do partido. Karl Liebknecht, deputado social-democrata, seria o único membro do Reichstag a votar contra a guerra, em 1914. Uma atitude que lhe viria a garantir ampla notoriedade pública à medida que se revelava a tragédia e a violência da guerra. Também Rosa Luxemburgo passou a ser vista como arauto do antimilitarismo – sobretudo depois de apelar aos soldados para se negarem a combater e de instar os trabalhadores a iniciarem uma greve de massas que, acreditava, acabaria por contagiar os operários dos outros países. Afinal, era uma acérrima defensora do internacionalismo. No seu entender, o nacionalismo não passava de uma concessão à burguesia – estando em profundo desacordo com Lenine.
As consequências não tardaram. Liebknecht foi enviado para o campo de batalha e, mais tarde, preso. Enquanto Luxemburgo passou três dos quatro anos da guerra na prisão. Ambos ajudariam a criar a Liga Espártaco, que mais tarde daria origem ao Partido Comunista Alemão (KPD). Sob pseudónimo, Rosa Luxemburgo escreveu no cárcere A crise da social-democracia (1915), que criticava a adesão do SPD à política da guerra. O livro ficaria na História por conter uma das suas afirmações mais célebres: “socialismo ou a barbárie”.
Também seria a partir da cadeia que acompanharia as convulsões da Revolução Russa de 1917. Os seus escritos da prisão sobre os bolcheviques só seriam publicados anos depois. Neles, apesar de mostrar apreço por Lenine e Trotsky, criticava a “centralidade democrática” do regime soviético. Luxemburgo defendia a democracia parlamentar e a realização de eleições livres. “Liberdade só para os apoiantes do governo ou só para os membros de um único partido não é liberdade de todo”, escreveu.
Quando se deu a queda do Muro de Berlim, em 1989, os manifestantes recuperaram uma das suas críticas aos bolcheviques: “A liberdade é sempre a liberdade de quem pensa de outro modo”. A sua oposição à Primeira Guerra Mundial também teria eco nos movimentos pacifistas da década de oitenta. Já durante os movimentos de contestação dos anos sessenta a figura de Rosa Luxemburgo havia sido recuperada.
A caminho do fim
A 9 de novembro de 1918 – o armistício seria assinado dois dias depois – a revolta dos marinheiros do porto de Kiel estendeu-se a Berlim e derrubou a monarquia. Rosa Luxemburgo seria libertada precisamente nesse dia, a tempo de vivenciar as primeiras horas da República. Apesar de a propaganda a apelidar de “Rosa Sanguinária”, os guardas da prisão despediram-se dela com lágrimas nos olhos.
A ativista defendia uma organização política semelhante à soviética e opunha-se à eleição de uma Assembleia Constituinte. A Liga Espártaco daria origem ao Partido Comunista Alemão em dezembro desse ano. O objetivo era chegar ao poder não através da força, mas do apoio das massas.
No mês seguinte, a 5 de janeiro, o SPD, agora no poder, decide neutralizar os comunistas, provocando a revolta armada. Apesar de não serem adeptos do confronto militar, Liebknecht e Luxemburgo apoiaram a contrarresposta revolucionária. E, até ser detida, a cofundadora do KPD exortou os trabalhadores a juntarem-se à luta.
A sua batalha seria interrompida ao ser assassinada a 15 de janeiro de 1919.
“A História repete-se, primeiro como tragédia e, depois, como farsa”, dizia Karl Marx. E foi precisamente uma farsa que se seguiu aos homicídios de Liebknecht e Luxemburgo.
Perante um tribunal militar, a morte de Karl Liebknecht foi justificada com uma “tentativa de fuga” do prisioneiro. Já sobre Rosa Luxemburgo, o capitão Pabst declarou que teria sido morta por uma multidão em fúria.
O companheiro de Rosa Luxemburgo durante longos anos, Leo Jogiches, que assumiu a liderança do Partido Comunista após a morte dos dois fundadores, tentou investigar o duplo homicídio por conta própria. Também ele acabaria assassinado dois meses depois, em março de 1919.
A maior parte dos réus acusados do homicídio de Liebknecht e Luxemburgo foi ilibada. Apenas um soldado cumpriria dois anos de pena e um tenente seria condenando a quatro meses de prisão. No entanto, o tenente Vogel acabaria por evadir-se para a Holanda e, mais tarde, seria amnistiado. Pabst foi apenas ouvido na qualidade de testemunha. Alguns dos envolvidos no homicídio de Luxemburgo seriam, mais tarde, aliados de Hitler.
Os homicídios dos líderes do KPD contribuiu para a divisão da esquerda e, retrospetivamente, seria interpretada como o princípio do fim da República de Weimar (1918-1933).
Em 1929, Bertolt Brecht assinalou os dez anos da morte de Rosa Luxemburgo com o poema Epitáfio.
Para a História, ficaram as ideias revolucionárias de uma mulher que nunca se deixou agrilhoar. Rosa Luxemburgo acreditava que só "quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem".
Vânia Maia
Jornalista
Fonte: http://visao.sapo.pt/atualidade/2019-01-15-O-assassinio-de-Rosa-Luxemburgo-Uma-tragedia-e-uma-farsa
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